Jaimes há muitos…

Não, a privacidade não existe. Está extinta e por mais que se acredite na utopia de partilhar em privado, ela vai estar ao alcance dos nossos inimigos.

Primeiro que tudo, é necessário ter noção de onde advém a imagem e a reputação organizacional. Já Fombrun remetia para a importância das mesmas: “a reputação é uma das fontes de uma vantagem competitiva”. Assim, é necessário ter cuidado com as mesmas. A reputação explica-se pelo agregado de imagens que são formadas pelos consumidores, mas conjuntamente pelo alinhamento moldado sobre o que é projetado por uma organização (identidade) e aquilo que é criado pelos públicos (imagem).

Desta forma, há que ter em atenção com o que alimenta estes dois conceitos e de que forma contribui para tal.

Cada vez mais a tecnologia tem evoluído e os social media proporcionalmente igual, estando diretamente ligados. Muitas oportunidades se criaram mas foco-me no término do último post: os perigos da internet. Tem diminuindo cada vez mais e, hoje, a privacidade é praticamente nula. Assim, é necessário entender que não há conversas privadas e o que não se quer público não se pode transmitir. O meu conselho é fácil:

Se não quer que seja público não o diga.

A privacidade hoje é enganosa e por mais que se julgue estar a divulgar informação num grupo secreto, ou numa conversa restrita… mais tarde ou mais cedo ela vai chegar aos ouvidos do público. O Streisand effect é um efeito forte que explica tal fenómeno e que prova que não vale a pena esconder ou ocultar informação. Quanto menos quiser que algo seja público mais se vai espalhar. Afinal de contas, a informação é porosa.

Relacionando com as temáticas do momento, olho bastante para o caso de Jaime Nogueira Pinto que foi vítima de um caso “estranho”, digamos assim. Muitos devem saber minimamente a situação que se passou, mas aconselho a quem não sabe a ver este artigo do jornal Observador que demonstra todos os primeiros momentos e reações do que se passou na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade da Universidade Nova de Lisboa. Vários acontecimentos caricatos têm surgindo ao longo dos tempos, desde o momento de uma nova tomada de posse da Associação de Estudantes da FCSH, que foi tomada por “Comunas”, como dizem as vozes da rua. Pontos de vista extremistas e um deles baseou-se na tentativa de cortar a palavra a Jaime Nogueira Pinto que iria abordar temas como o Brexit, Trump e Le Pen, de forma a contrapor o populismo e a democracia. Numa simples, RGA, que se equipara a uma Assembleia Geral, votou-se numa moção contra a conferência com o argumento de que se tratava de algo fascista. Gostava de fazer uma pequena observação:

O que é mais fascista do que a censura? Do que cortar a liberdade de expressão, de opinião e de debate?

Continuando, a moção seguiu para a direção e de facto a conferência foi cancelada. E o que todos pensaram? Claro, a AE FCSH conseguiu passar por cima da direção da faculdade! Toda a reputação da unidade orgânica da Universidade Nova de Lisboa foi posta em causa, afetando assim a Faculdade, a Universidade e as suas direções.

Conhecendo melhor este caso e esperando por mais informações concretas, esclarecedoras e de maior credibilidade, percebemos que não foi bem assim. A questão é que como era algo mais polémico foi comunicado mais massivamente e a real história apesar de ter sido divulgada em vários meios de comunicação, poucos a sabem e a poucos também interessou saber. Quer dizer, excepto às direções da faculdade e da universidade que ambicionavam esclarecer este assunto, minimizando da melhor forma possível os danos reputacionais e dos olhos de todos os seus públicos.

Simplesmente, a conferência não se realizou devido a dúvidas de segurança. A direção da faculdade, conhecendo os perfis dos seus alunos, tinha receios que um tema tão polémico que iria gerar um debate vivo certo pudesse ficar mais aceso do que o desejado. Assim, estas preocupações com a segurança elevaram-se e para o bem e estabilidade da instituição tomaram a decisão que lhes pareceu correcta. Francisco Caramelo, presidente da direção da FCSH, afirma que o cancelamento não está de todo relacionado com ideologias ou cores políticas: “é um espaço de debate, liberdade e reflexão que recebe debates de muitas naturezas diferentes”.

O que se tem de perceber é que para os media é muito mais entrópico a 1ª notícia que decreta responsabilidades sobre a associação de estudantes. Esta é uma notícia que apresenta um caráter mais original porque não costuma acontecer. É algo raro. Não é em qualquer dia nem em qualquer local que uma AE passa por cima de toda uma faculdade com uma moção aprovada por 0,5% dos alunos da mesma instituição. Meros 24 alunos! Claro que se a decisão fosse conhecida como mero fruto da direção da faculdade, quer se concorde ou não, não iria surgir polémica acerca disto porque muito provavelmente o tema não seria sequer comunicado.

Neste caso, surge ainda uma dúvida em que a entidade organizadora da conferência, o núcleo Nova Portugalidade afirma que  nada foi adiado como a faculdade chegou a afirmar. Assim, refutam a informação disponibilizada pela instituição dizendo que foi cancelada e que ambas as partes, organização e orador, foram comunicados de tal. Mas não abordarei este pequeno grande pormenor e vou manter o foco no assunto abordado inicialmente…

Qual foi o problema?

A reputação da FCSH e da Universidade Nova de Lisboa que ficou extremamente afetada, pois de outra coisa não se falou nos media. Palavras como “FCSH”, “Jaime Nogueira Pinto” foram topic trending no twitter nacional e por todos os jornais estava presente uma notícia relativa a isto.

Hoje, estão publicadas várias notícias sobre o que realmente se sucedeu, por quem passou a decisão e por que razões.

Simplesmente, não houve uma comunicação tão forte dos mesmos e o interesse dos públicos também é menor. Todos já tinham visto a temática e fartaram-se da polémica não se interessando mais por ela. Os media optaram por não divulgar tanto a segunda notícia. O que veio resultar em ferimentos na reputação da instituição e da sua associação de estudantes.

Apenas fica a pergunta se alguma medida vão tomar para tentar recuperar esta reputação?

Pois todos sabemos que a reputação vai influenciar diretamente o sucesso ou insucesso organizacional.  Casos destes são vários e há que saber lidar com eles. Tal competência é da responsabilidade de um profissional de Relações Públicas de forma a evitar estas situações e mesmo quando elas acontecem saber dar a volta com o máximo de transparência e restantes valores presentes na organização.

Jaime Nogueira Pinto, agradeço à Associação 25 de Abril por te ter disponibilizado condições para a conferência se realizar e só te deixo uma frase da Evelyn Beatrice:

“Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.”